No passado domingo, dia 2 de novembro, a Républica da Música, em alvalade, foi a catedral escolhida para receber, de forma calorosa, o primeiro dos dois concertos dos Leprous em solo português. A banda escandinava revolucionária do metal experimental e progressivo partiu para esta tour europeia tendo por base o seu oitavo álbum de estúdio “Melodies of Atonement”, lançado em agosto de 2024. Antes de partirmos para a nossa análise detalhada, importa destacar que a acompanhar os Leprous nesta digressão, estiveram os seus conterrâneos Gåte, banda que representou a Noruega na Eurovisão no ano passado e que se caracteriza por uma fusão entre metal e música tradicional norueguesa pautada por fusões contemporâneas e eletrónicas e, por sua vez, a completar este elenco de abertura e para iniciar o aquecimento dos fãs que encheram a República da Música, estiveram os Royal Sorrow, com o seu som mais direto, pesado e atmosférico.
Bem, isto seria o início normal desta crónica se tudo tivesse acontecido dentro da normalidade e como planeado, o que não sucedeu. Na verdade, no passado domingo toda a logística do concerto dos Leprous foi marcada por uma série de imprevistos que surtiram efeito na agenda e nos planos que estavam delineados. Com a abertura de portas pelas 19:30, estava estipulado que os Royal Sorrow abrissem as hostilidades às 20:15.
Tal teria acontecido se o autocarro que transportava a banda não tivesse avariado no caminho desde Múrcia (Local do último show prévio ao agendado para Lisboa) até Portugal. Por volta das 21horas, foi comunicado no palco pela entidade organizadora do evento o imprevisto sucedido e que tal não só teria como consequência o cancelamento do concerto dos Royal Sorrow, bem como afetaria o decorrer do concerto dos Gåte, uma vez que parte dos instrumentos e do seu backline também se encontravam no meio de transporte avariado. Contudo, foi também transmitido que apesar do atraso, tanto o set dos Gåte como de Leprous não sofreria qualquer impacto e que a qualquer momento começaria o show. Os fãs acataram o comunicado com compreensão e permaneceram imoveis à espera que a energia começasse.
Para azar dos mesmos, nada sucedeu até as 22:30 (1 hora e meia depois do alerta), quando na entrada principal da República da Música se começaram a ver os camiões a chegar e o staff dos Gåte a entrar com as caixas de merchandising e instrumentos pela arena adentro, indicando que estaria finalmente na iminência de começar, o que surtiu algum alívio nos ânimos dos fãs que, naturalmente, já estavam a ficar impacientes. E assim foi, por volta das 22:45 os Gåte subiram ao palco e cumpriram tudo aquilo a que se propuseram durante 30 minutos. Com todo o profissionalismo, trouxeram ao público fiel que tanto aguardou, a sua energia nórdica, pesada e com os peculiares elementos folk que tanto caracterizam a banda, bem como a pronuncia norueguesa da vocalista Gunnhild Sundli.





Leprous
Após mais de 3 horas e meia desde abertura de portas, chegou, finalmente, a vez do prato principal da ementa da noite, os tão aguardados Leprous. Efetivamente, foi para isto que a malta encheu a República da Música num domingo à noite. Como é já do conhecimento geral, os noruegueses têm solidificado o seu estatuto e reputação no universo do metal progressivo, combinando elementos eletrónicos e industriais com uma complexidade técnica conjugada com emoções profundas explanadas ao longo das suas letras.
E foi com essa reputação que os Leprous entraram em palco e, apesar dos imprevistos que antecederam o início do seu concerto, deram um concerto exemplar, sem erros ou qualquer problema técnico. A acústica do local estava ótima, os instrumentos ouviam-se de forma perfeitamente lúcida e, como não poderia deixar de ser, o vocalista e fundador da banda, Einar Sloberg, estava numa noite bastante inspirada, como habitual, e com os seus agudos e falsetes entrou no coração de cada fã que ali se encontrava, sendo esta uma das principais virtudes e ex libris da banda.




Abrindo com uma das músicas mais conhecidas do seu último album (Silently Walking Alone), os Leprous presentearam os seus fãs com uma setlist bastante equilibrada entre faixas recentes e outras mais clássicas que remontam aos primórdios e à essência da banda, tais como “The Price” e “From the Flame”. Não podíamos deixar de frisar, na primeira meia hora de concerto, o emocionante cover de uma das músicas que marcou a era pop 80, a icónica “Take On me” dos a-ha, onde os Leprous foram fiéis à versão original, contudo, dotando-a de elementos mais eletrónicos e sombrios tornando-a mais profunda e lenta, sendo extremamente bem recebida pelo público.
O ponto mais alto desta noite de domingo foi, sem sombra de dúvidas, o momento em que a banda, aquando da interpretação da música “Faceless”, chamou uma dúzia de fãs ao palco, para juntamente com os restantes elementos fazerem o coro, sobretudo no refrão. Foi um pormenor a valorizar e que criou um bonito momento de harmonia entre a banda e o público que os aguardou durante mais de 3 horas. Assim, os Leprous finalizaram uma setlist bastante dinâmica após 1 hora e meia de concerto que, ao que pudemos apurar à saída, deixou os fãs deveras satisfeitos.








Desta noite, retiramos que andar em digressão é sempre um assunto delicado e exige uma enorme logística e química entre todas as entidades intervenientes. Imprevistos podem acontecer e devem ser rapidamente resolvidos e, apesar de não ter sido esse o caso, a longa espera não demoveu os fãs e os Leprous cumpriram, com sucesso, mais uma visita ao nosso país, encerrando esta última com um show no Hard Club, no Porto, no dia 3 de novembro.
Artists: Leprous & Gåte
