O regresso de Tobias Forge e os seus coroinhas a Portugal depois de seis anos após se terem apresentado na Sala Tejo prometia e muito. O espetáculo, onde o uso de telemóvel foi estritamente proibido, marcou a escolha do sucessor do Papa Francisco, Ops… digo do Papa Emeritus IV, que ficou nas mãos de Papa V Perpetua.
No final da tarde a região da Expo, o centro comercial Vasco da Gama e arredores parecia o Vaticano tamanho a quantidade de padres e freiras endiabradas a rondar o sítio, a espera da abertura das portas que ocorreu as 18:30h. A aqui um ponto a salientar, houve muita preocupação com a entrada ao recinto, pela questão da bolsa para guardar os telemóveis, se iria demorar e causas atrasos , algo que foi feito de forma primorosa pela produção e estrutura do local.
Voltando a musica , os Ghost lançaram na sexta-feira dia 25 de abril o seu mais recente trabalho intitulado “Skeletá” sexto álbum da banda que quase nunca erra. Aqui Tobias faz uma clara declaração de amor a sonoridade hard rock e AOR dos anos 80, cheio de influência e elementos de bandas como os Journey, Def Leppard ou Scorpions, o que agradou a maioria dos fãs. O concerto começou cheio de expectativas, por não ter banda de abertura o público aguardou cerca de uma hora e meia até os primeiros acordes do canto litúrgico “Miserere mei, Deus” de Gregorio Allegri, que levou ainda uns bons minutos aumentando mais a ansiedade de um público em que a média de idade era bastante baixa, ao ponto de Forge soltar “Amanhã é dia de escola” despretensiosamente.
Assim que Tobias finalizou o primeiro refrão, eis que o pano caiu com a primeira explosão sonora da noite, ao som de “Peacefield” e logo em seguida outra nova do Skeletá “Lachryma” cantada a plenos pulmões pela maioria do público presente que teve pouco tempo para decorar as letras do recém-lançado álbum. Mesclando músicas do alto dos seus seis trabalhos a banda emendou “Spirit” e “From the Pinnacle to the Pit” do seu terceiro álbum Meliora que alias foi quem mais compôs o set list com seis faixas, e logo depois o primeiro ápice da noite com “Call Me Little Sunshine” em que o Meo Arena foi a loucura, com a primeira aparição de Papa V Perpetua, trajado devidamente parecendo por vezes um robô alienígena.
Na sua primeira interação com o público Tobias deixou claro “É um milagre que estejamos aqui hoje”, referindo-se ao apagão de segunda-feira menos de 24 horas do início do concerto, o que deixou muita gente em pulgas. O fato é que deu tudo mais do que certo , principalmente a partir de “Satanized” outra música nova que foi apresentada ao público que já sabia de cor toda a letra, com o cenário já diferente, novas luzes criando uma nova atmosfera. Eis que Papa V Perpetua volta a aparecer desta vez com auxílio de um elevador debaixo do palco para mandar a brutal “Year Zero”, com o Meo Arena em uníssono satânico a fazer estremecer todos os pilares, certamente um daqueles momentos que iremos nos lembrar durante muito tempo, sem precisar do telemóvel para filmar.
O concerto já se encaminhava para a parte final, com clássicos potentes como “He Is” e “Rats” que levaram mais uma vez todos os presentes ao delírio, acompanhado dos seus fieis e leais Nameless Ghouls, esses músicos mascarados anónimos que acompanham Tobias em palco e que são um verdadeiro show a parte, tamanha a qualidade técnica e presença de palco de todos. Já no discurso de despedida, Tobias discursou uma última vez, fazendo referência às várias passagens dos Ghost por Portugal e mandou “Monstrance Clock” encerrando o concerto como se se tratasse de uma missa negra partilhada por todos os fãs.
Quando voltaram para o Encore, a fala mais engraçada de Tobias da noite , “Agora que já tocamos as melhores , vamos tocar as ruins agora” brincando com o fato de “Mary On A Cross” ter virado um clássico do TikTok, e ser uma das músicas mais aguardadas pelos fãs mais novos. Logo depois “Dance Macabre” já um clássico absoluto da banda seguido de “Square Hammer” fechando de forma apoteótica e teatral uma noite memorável que nos levou diretamente para os anos 90 em que não haviam telemóveis , eram apenas a plateia com os seus olhos, corações e a música, algo que precisávamos recordar e os Ghost fizeram isso de forma primorosa.
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