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Sabaton- Legends

No passado dia 17 de outubro, os Sabaton lançaram o seu 11.º álbum de estúdio. Neste álbum, a banda gravou com a formação actual que junta Brodén (Vocais), Sundström (Baixo), Rörland (Guitarra e Backing Vocals), Van Dahl (Bateria) e o regressado Thobbe Englund (Guitarra e Backing Vocals), que substituiu Tommy Johansson, que saiu no início do ano de 2024. Produzido por Jonas Kjellgren, Legends mantém o ingrediente central da musicalidade dos Sabaton: refrões que ficam no ouvido, baixo vibrante, variações rítmicas na bateria que conferem uma energia cinematográfica e, por último — mas não menos importante — os teclados, que formam o ambiente de uma epopeia clássica como cenário de fundo.

De facto, foi precisamente com base na narração de feitos que marcaram a História que os Sabaton construíram a sua carreira e ergueram o estandarte do power metal histórico. Álbuns como The Art of War (2008), Carolus Rex (2012) ou The Great War (2019) apresentam-se como autênticos manuais de História, onde vemos retratadas batalhas, exércitos e heróis. Em Legends, as letras continuam repletas de referências históricas e um dos seus maiores méritos é o equilíbrio entre as músicas, despoletando no ouvinte a sensação de que cada faixa retrata um ponto fulcral da História — sem abrandar e sem dar a sensação de esmorecimento. Contudo, a banda sueca decidiu mudar de campo de batalha, ou seja, abandonar o terreno propriamente dito da narração de factos e marchar em direção à componente mitológica, sendo precisamente a partir deste aspeto que surge o nome Legends.


Aqui, os protagonistas são figuras que transcendem o indivíduo — não são os soldados registados nos manuais militares anteriores, mas sim conquistadores mongóis, samurais e imperadores que representam símbolos eternos da glória e do poder. Este traço confere um pendor criativo ao álbum, pois a temática e a sua narração são acompanhadas, com enorme sucesso, pela musicalidade e pela vertente instrumental escolhida, delimitando uma fronteira clara entre a História real e o que é “lendário”. Esta lógica é validada pelas referências a Genghis Khan, Júlio César, Joana d’Arc e aos próprios Templários. Efetivamente, denota-se, de forma evidente, que durante anos os Sabaton foram cronistas fiéis da História — cada faixa era dedicada a um marco, a uma data — e, quando lemos isto, ecoa de imediato na nossa imaginação o refrão da clássica (e tão amada pelos fãs) “Primo Victoria”.


Por sua vez, em Legends, os protagonistas são figuras reais, sim, contudo apresentadas de forma quase mítica, sendo elevadas ao simbolismo e àquilo que perdura com a passagem dos séculos. Imediatamente na primeira faixa, que corresponde ao primeiro single, “Templars”, temos todos os ingredientes que descrevem de forma elucidativa o resto do álbum. Abre com uma atmosfera épica, não só com os teclados orquestrais, como também com o coro imponente, que alimenta uma sensação de ritual. O objetivo aqui não é atingir uma velocidade exacerbada, mas sim, através de um ritmo moderado, criar uma clareza narrativa e um espírito completamente transcendente, atingindo o seu máximo exponencial no refrão melódico e cantado em coro épico. Foi o primeiro single e continua a ser um dos pontos altos do álbum, que certamente ecoará ao longo das arenas que os Sabaton irão encher na próxima tour.

Outro dos ex libris deste novo trabalho, na minha ótica, é a faixa “Crossing the Rubicon”. Para qualquer fã de metal, nesta música destacar-se-ão, desde logo, os peculiares riffs clássicos de guitarra, tendo em conta o cômputo geral do álbum. Representa de forma fiel a vertente mais “clássica” dos Sabaton, onde sobressai o espírito de hino e a sua marcha característica. Importa salientar que a letra se refere diretamente à figura de Júlio César e à forma como este se tornou uma figura irreversível na História e na própria transformação da República Romana.Para fechar o clássico levamento que costumo realizar dos grandes momentos dos álbuns que analisamos, destaco “I, Emperor” que se foca em Napoleão, sendo um dos momentos mais teatrais de Legends. Esta faixa abre de forma única com um crescendo orquestral até atingir o refrão que retrata o poder absoluto, a imagem única do “Eu Imperal”. Ademais, é dotada de um solo de guitarra incisivo, lento e melódico.

Numa avaliação geral, destaca-se um álbum sólido, onde além destes momentos distintos, apresenta músicas mais generalistas acima da média, com a batida rápida de Sabaton acompanhada da tradicional pronunciação de palavras do vocalista Joakim Brodén.
Com Legends, os Sabaton reafirmam-se como os verdadeiros cronistas do metal épico. Mantêm o vigor e a grandiosidade que os definem, mas expandem a sua fronteira criativa ao transformar factos históricos em arquétipos lendários. Cada faixa é uma marcha rumo à imortalidade, um tributo ao poder das lendas e ao eco da glória. Inferindo, creio que, de um ponto de vista geral, os fãs podem estar contentes com este novo trabalho da banda.

Artists: Sabaton

Francisco Cabral

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Francisco Cabral

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