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Testament – Para Bellum

Há bandas que envelhecem, e há bandas que persistem, não por teimosia, mas por convicção. Trinta e cinco anos após a estreia de The Legacy (1987), os norte-americanos Testament regressam com Para Bellum, o décimo quarto capítulo da sua discografia e, talvez, o mais contundente desde The Gathering (1999).

Após um hiato de cinco anos, aquando do lançamento do álbum Titans of Creation, os Testament presentearam os seus fãs com Para Bellum, aguardado com alguma expectativa, uma vez que iria ser a estreia do novo baterista, Chris Dovas, que se junta ao alinhamento memorável e clássico com Chuck Billy (vocais), Alex Skolnick (guitarra solo), Eric Peterson (guitarra rítmica/solo) e Steve Giorgio (baixo). Produzido com o habitual rigor técnico por parte de Juan Urteaga, Para Bellum é um disco que vive na tensão entre tradição e modernidade.

Quando falamos de Testament, estamos habituados à intensidade thrash, com riffs de guitarra rápidos, double bass de bateria e a harmonia com a voz singular de Chuck Billy. Na verdade, foi exatamente isso que os dois singles lançados, “Infanticide A.I.” e “Shadow People”, prometeram e, de certa forma, correspondeu à realidade global do álbum, que, a nível lírico, se mantém fiel à visão apocalíptica que sempre alimentou a identidade da banda, sendo a guerra, a tecnologia e a desumanização temas centrais.

Efetivamente, Para Bellum mantém tudo isso, contudo, julgamos ser um álbum significativamente mais criativo que aqueles que o antecederam. Tal acontece logo na surpreendente faixa de abertura “For the Love of Pain”, onde a banda nos cativa com várias dinâmicas novas e sons que não são usuais no seu repertório. Para os amantes de metal e ouvintes mais atentos, são evidentes as melodias Groove-Death e, acima de tudo, os riffs de guitarra com um pendor de Black Metal que deixam qualquer um surpreso. De facto, a banda desafiou-se a si mesma, mantendo a sua essência clássica criada nos anos 80, ao mesmo tempo que incorporou, a nosso ver com enorme sucesso, elementos sombrios que exploram outros géneros do metal mais extremo.

O álbum mantém esta energia criativa ao longo das faixas, algo que se denota na inserção constante dos tais elementos sombrios e progressivos supracitados. Como tal, pretendemos destacar alguns dos pontos altos desta “viagem” que é ouvir o novo álbum dos Testament. Uma vez já mencionada a faixa de abertura, uma das mais surpreendentes e inovadoras de todo o álbum, é impossível deixar de parte “Meant to Be”. É costume dizer-se que os Testament não têm baladas fracas, e parece que assim continuarão. Esta faixa é uma balada poderosa, com um refrão melódico, bateria com uma batida bem pesada, complementada pela sintonia entre as duas guitarras, que criam uma harmonia única e que fica no ouvido. A juntar a isto, é evidente a orquestração da música, com instrumentos que a tornam épica, trazendo à tona o espírito do Heavy Metal clássico, mesclado com a mudança de ritmo entre as partes. É possivelmente o momento mais memorável do disco, sobretudo para quem valoriza vertentes mais melódicas e singulares, que abrem uma brecha face às restantes faixas mais generalistas do resto do álbum.

Após fazer referência à primeira impressão despoletada por parte dos dois singles, mergulhar na criatividade da faixa de abertura e passar pela peculiar balada, queremos terminar este levantamento de highlights do álbum com “Witch Hunt”. A faixa destaca-se, desde logo, pela sua abertura claramente influenciada pela sonoridade de Black Death, rápida, agressiva e com intenção. Após esta abertura rápida, “Witch Hunt” torna-se num hino ao thrash metal, pautado por variações inesperadas introduzidas por drops de bateria com uma enorme potência. Com isto, podemos dizer que há uma combinação entre agressividade rítmica e a maturidade instrumental da banda como um todo.

Nos dias que correm, o género do metal fragmenta-se em mil subgéneros, e a indústria parece viver de repetições ou de tentativas de inovação cada vez mais extremas, com o objetivo de chocar e descolar para outro patamar. Por sua vez, os Testament continuam a seguir a forma básica que tornou o Heavy Metal universal, independente de qualquer idade e género. É a forma do riff pesado e melódico, da potência de uma batida de bateria que nos enche as medidas e que, no fim, tem o tempero ideal de letras empíricas e mórbidas que nos levam a refletir acerca da natureza humana.

Assim, é notório que, com quase 40 anos de carreira, os Testament não pretendem abrandar, mas sim brindar os ouvintes com a sua consistência e peso, sendo esta a forma mais pura de ser relembrado no mundo da música.

Artists: Testament

Francisco Cabral

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