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The Troops of Doom em Lisboa – 29 novembro

A noite de 29 de novembro no RCA Club abriu com duas bandas que, cada uma à sua maneira, prepararam o terreno para a devastação que os The Troops of Doom viriam a desencadear. Após uma semana bastante conturbada pelas terras de Espanha devido ao assalto de que foram vítimas e onde foram roubados passaportes e materiais cruciais que comprometeram o normal funcionamento do resto da tour, os The Troops of Doom encontraram o seu lar de conforto em Lisboa que os acolheu com o maior carinho e respeito. No entanto, antes de partirmos para o embate do thrash death do projeto brasileiro, o público foi brindado com duas bandas nacionais, bastante distintas e com as suas especificidades.

Black Hill Cove

Os primeiros a entrar em cena foram os Black Hill Cove, com a sua nítida fusão de sons que incluem, essencialmente, elementos de Groove e Hardcore Moderno unidos por uma coletânea de riffs com uma distorção esmagadora e densa liderados por Nuno Aguiar de Loureiro, um dos músicos experientes que compõem este quarteto português. Aquando da sua subida ao palco, o RCA começou a ficar composto e correspondeu com a energia certa para receber uma banda querida pela casa.

Sacred Sin

De seguida, chegou a vez dos Sacred Sin, nome incontornável do Death metal português e uma das bandas mais influentes do género no país e que remontam ao início dos anos 90. Desde a sua formação em 1991, estabeleceram-se como uma das bandas mais respeitadas da cena de metal extremo na península ibérica sendo, a título de curiosidade, a primeira banda do género em Portugal a tocar na MTV Headbanger Ball, em 1993. A sua performance foi direta, rápida e agressiva, com a energia que era expectada, combinada com a brutalidade característica do Death metal clássico, com a solidez dos riffs e os vocais rasgados de José Costa. Assim, os Sacred Sin elevaram a fasquia e deixaram o público bem quentinho para o grande momento da noite.

The Troops of Doom

E eis que ele chegou, o momento de regressar às raízes do thrash death brasileiro, conduzido pelo lendário Jairo Guedz, guitarrista da fase sombria pré-Schizophrenia dos Sepultura. Carregando o peso da história em palco, mas também olhando para o futuro e para o valor criativo que apresentam de forma constante ao longo dos seus álbuns de estúdio, os The Troops of Doom mostraram toda a sua vitalidade, harmonia e provaram, mais uma vez, a todos os presentes que é possível, mesmo tendo por base todos os elementos clássicos, inovar e criar uma imagem de marca e uma brecha no nicho do Heavy Metal. Ver Troops of Doom ao vivo é como abrir uma cápsula do tempo e experienciar, numa nobre garagem no centro de Alvalade, o espírito primitivo do metal extremo da segunda metade dos anos 80.


Efetivamente, foram estas sensações que se sentiram quando a banda entrou em palco de forma eletrizante e foi direta ao assunto, brindando os fãs com três pesos pesados da sua discografia: “ACT I – The Devil’s Tail”, “Chapels of the Unholy” e “Far from your God”. Ninguém que aprecie a rapidez e o groove de riffs thrash ficaria indiferente a este início de concerto por parte dos The Troops of Doom, onde a voz de Alex Kafer unia a bateria de rompante de Alexandre Oliveira e os riffs old school das duas guitarras, destacando-se a técnica e ferocidade de Jairo Guedz. Como se não bastasse, após este trio de músicas de abertura, a quarta tratou-se, nada mais nada menos, do que “Bestial Devastation”, a primeira visita da noite ao repertório de estreia dos Sepultura (Morbid Visions – 1986).


Daqui em diante, os The Troops of Doom puseram “toda a carne no assador” e exploraram grande parte dos temas dos dois pesos pesados que constituem a sua discografia, ou seja, o álbum “Antichrist Reborn” e o recente “A Mass To The Grotesque” com um som mais denso e ritualístico, destacando-se temas como “Dawn of Mephisto” e “Denied Divinity”, bastante bem recebidos pelos fãs que, ao ritmo avassalador da banda, abriam um Moshpit que se manteve ativo até ao fim da noite, mais que não seja porque após a energia cortante das músicas de estúdio da banda, estes voltaram a entrar no coração dos fãs quando tocaram o icónico tema “Morbid Visions”, não deixando ninguém indiferente e despertando toda a dopamina do RCA Club.


Felizes por poderem, finalmente, falar português pela primeira vez na tour, os The Troops of Doom foram ovacionados por todos os metaleiros que se dirigiram a Alvalade na noite chuvosa de 29 de novembro, agradecendo humildemente a calorosa receção e preparando o cenário para a última música do concerto que, obviamente, não poderia deixar de ser o aclamado tema “Troops of Doom”, com os seus riffs e vocais mórbidos e sombrios que colocaram pela primeira vez o nome Sepultura na história da música pesada.
Assim terminou o concerto e o último mosh da noite, contudo, este não foi o último momento de harmonia entre a banda e os fãs. Na verdade, 20 minutos após o concerto, a banda dirigiu-se ao stand de merch, falou com todos os que ali se encontravam e autografaram vinis, cds, camisolas, dispensando um grande período de tempo para meter a conversa em dia e prestar respeito a todos aqueles que após o concerto se dirigiram em massa à banca de merchandising oficial da banda.


Fazendo um balanço geral, foi uma noite à antiga, em que, apesar das raízes históricas, os Troops soam atuais, vivos, intensos e com uma enorme vitalidade. Não é uma banda a viver do passado, mas sim a prestar respeito ao que foi criado e às suas origens, aproveitando as suas capacidades para aportar coisas novas ao mundo do Metal. Da minha parte, foi uma honra poder ver um dos pilares do metal brasileiro num club tão intimista como o RCA e aconselho a todos os leitores a fazerem o mesmo num futuro regresso destes nossos “irmãos” a Portugal.

Artists: The Troops of Doom

Francisco Cabral

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